segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Origem de Raul Soares

INTRÓITO

Uma quizila existe na definição da data de nascimento do município de Raul Soares.
Alguns entendem que a data é 20 de janeiro. Outros querem que seja 19 de setembro.
Vamos tentar esclarecer a questão.
A Lei Municipal n.º 146, de 3 de fevereiro de 1903, criou o distrito de São Sebastião de Entre Rios.
Em 30 de agosto de 1911 a Lei Estadual n.º 556, desmembrou de Ponte Nova o município de Rio Casca, ficando este constituído de três distritos : Rio Casca (a sede), São Pedro dos Ferros e São Sebastião de Entre Rios.
A Lei Estadual n.º 843, de 7 de setembro de 1923, dispondo sobre a divisão administrativa do Estado, sancionada por Raul Soares de Moura, Presidente do Estado de Minas Gerais, secretariado por Fernando Mello Vianna, criou o município de Matipóo, constituído dos distritos de São Sebastião de Entre Rios(desmembrado de Rio Casca), que passou a denominar-se Matipóo, Vermelho Velho (ex-São Francisco do Vermelho) e Vermelho Novo (desmembrados do município de Caratinga).
Bicuíba, no quadro da divisão administrativa de 1923 era distrito do município de Abre Campo.
Santana do Tabuleiro integrava o distrito de Vermelho Novo.
Em 19 de setembro de 1924 foi sancionada pelo Presidente do Estado Olegário Dias Maciel a Lei n.º 862, do seguinte teor:


Lei n.º 862 – de 19 de setembro de 1924

Manda denominar-se “Raul Soares” o município de Matipóo

O povo do Estado de Minas Gerais, por seus representantes, decretou, e eu, em seu nome, sanciono a seguinte lei:
Art. 1º - Passa a denominar-se “Raul Soares” o município de Matipóo.
Art. 2º - Revogam-se as disposições em contrário.
Mando, portanto, a todas as autoridades a quem o conhecimento e execução desta lei pertencerem, que a cumpram e façam cumprir tão inteiramente como nela se contém:
O Secretário de Estado dos Negócios do Interior a faça imprimir, publicar e correr.

Dada no Palácio da Presidência do Estado de Minas Gerais, em Belo Horizonte, aos 19 dias de setembro de 1924.

OLEGÁRIO DIAS MACIEL
SANDOVAL SOARES AZEVEDO


UM DEPOIMENTO IMPORTANTE

“Em 1837, Cassimiro de Lanna e Domingos de Lanna, procedentes de Mariana e residentes em Abre Campo, chegaram às ínvias paragens à beira do rio Matipóo e tomaram posse das ricas matas do Boachà, nome originário de um índio decrépito que ali morava, à margem direita do mesmo rio.
Em 1841, os irmãos Cassimiro e Domingos venderam partes da mesma posse, compreendendo os terrenos da margem esquerda, para o velho Francisco Alves do Valle que passou a residir ali com a sua numerosa família.
Por seu falecimento, os seus herdeiros José, Jacob, Francisco e Manoel Alves do Valle e suas irmãs venderam diversas partes dos terrenos para terceiros e fizeram doação de outras partes dos terrenos para terceiros e fizeram doações de outras partes para o patrimônio de uma capela a São Sebastião, como súplica para abrandar as terríveis febres palustres que ali grassavam com tanta intensidade, ceifando diariamente tantas vidas a ponto de parecer inabitável aquela localidade. Por muitos anos ficou o povoado desabitado e impedido de se desenvolver, tal era o terror infundido pelo impaludismo.
Mais tarde, Manoel Luiz de Faria, João Pinto de Oliveira e seus herdeiros, doaram terrenos ao patrimônio de São Sebastião, que por motivo de sua situação entre duas correntes fluviais - o Matipóo e o Santana - passou a denominar-se São Sebastião de Entre Rios - nome com que foi elevado a distrito. Todos os fundadores do arraial de São Sebastião de Entre Rios deixaram numerosa progênie composta de conceituados e laboriosas famílias de agricultores, residentes naquele distrito.
Os irmãos Alves do Valle, com o auxílio de pessoas então ali residentes, iniciaram a construção de uma capela que foi, por longos anos o templo dos fieis do lugar, sendo também construído um pequeno cemitério em redor da mesma igreja.
Continuamente assolado pelas maleitas, Entre Rios não podia progredir, mantendo-se estacionária por muitos anos. Descortinadas as margens do rio Matipóo, foi, aos poucos, desaparecendo a terrível mórbus que infelicitava a localidade. O povo avocou a si a tarefa de sanear a imensa planície em que se assenta a sede do distrito. Cada charco existente em pleno coração do arraial foi transformado em um ponto de edificação.
A Lei Municipal de Ponte Nova, n.º 146, de 3 de fevereiro de 1903, elevou São Sebastião de Entre Rios a categoria de distrito. De então para cá, a localidade tem adquirido grande impulso. Novos habitantes ali chegaram continuamente. As construções aumentavam consideravelmente. De dia para dia, o desejo de melhorar se acentuava por toda a parte, Vários anos se passaram até que os trilhos da Leopoldina, ansiosamente esperados, tocaram àquelas paragens, fazendo ali, desde 1915, o ponto terminal do ramal de Ponte Nova a Caratinga.
Raramente se encontra em Minas um lugar que, em tão curto prazo, tenha progredido tanto. As construções se multiplicam rapidamente para acomodar as numerosas pessoas que ali chegam para tentar o comércio. Todos os ramos da atividade humana se impulsionaram grandemente com a chegada da estrada de ferro. O comercio cresceu e tomou proporções verdadeiramente admiráveis.
Matipóo, como é hoje conhecida a localidade, por ser o nome de sua estação ferroviária, é uma das praças comerciais mais importantes da Mata. É o ponto de convergência de todos os exportadores de diversas localidades que ali vêm para vender os seus produtos ou para remete-los a qualquer outro destino comercial. De Imbé, Inhapim, Bom Jesus do Galho e outras localidades do município de Caratinga, distante quinze e mais léguas, são transportadas mercadorias para serem vendidas ali. Toda a exportação de São João Matipóo, Santo Antônio do Matipóo e muitas outras localidades vizinhas é feita pela estação de Matipóo. Colocada em uma planície admirável e com elementos para se desenvolver muito, Entre Rios é hoje uma localidade importantíssima do município, possuindo ruas largas e muito bem alinhadas, com numerosas edificações, embora sejam em sua maioria casas pequenas e baixas.
O povo de Entre Rios é geralmente adiantado. A instrução pública é por todos ali encarada como o fator primordial da nossa civilização. Os pais de família não medem sacrifícios para matricular seus filhos nas escolas públicas locais. Entre Rios só tem um filho formado - o Dr. Edmundo Rocha, advogado em Rio Casca. Presentemente, diversos moços, filhos de conceituadas famílias do logar acham-se matriculados em estabelecimentos de instrução secundária do Estado. Desempenha as funções de inspetor escolar o Sr. Joaquim José da Silveira que muito tem feito pela instrução pública. Entre Rios tem quatro farmácias dirigidas pelos profissionais Aristides Pancrácio Alves de Souza, Rufino Martha da Rocha, Antônio Gomes de Barros e José Lopes Baião. O Dr. Mário Augusto de Figueiredo, médico ali residente, mantém um consultório clínico muito freqüentado.
Os homens que mais trabalharam pelo desenvolvimento de Entre Rios e colaboraram na sua fundação, foram: Francisco Amâncio Alves Torres, Cap. Antônio Martins Pinheiro, os Nunes de Moraes, os Alves do Valle, Manoel Luiz de Faria, João Pinto de Oliveira, João Domingos da Silva e Joaquim José da Silveira. E vereador especial do distrito o cidadão João Domingos da Silva, chefe político de incontestável valor. Reside em Matipóo o vice - presidente da Câmara - o humanitário e bondoso farmacêutico Joaquim José da Silveira.”


UMA GRANDE FLORESTA

Uma mata densa, com variadas espécimes de madeira, cobria a vasta extensão territorial de São Sebastião de Entre Rios. A área central do lugar era um charco, criador de mosquitos que atormentavam e adoeciam a população. Zero era a taxa de saneamento.


TRANSPORTE

Os tropeiros, qual novos bandeirantes, aqui chegavam trazendo e levando mercadorias. Convivi com um destes bandeirantes: o meu pai. O lombo dos animais era o único meio de transporte, por caminhos ínvios.
A linha férrea da The Leopoldina Railway Company Limited, empresa com sede em Londres, Inglaterra, foi implantada em terrenos adquiridos por doação. Os terrenos localizados na área central do distrito foram doados pelo casal João Domingos da Silva e sua mulher Maria N. da Silva, estando devidamente registrado no Cartório de Registro de Imóveis de Ponte Nova (MG), em 7 de julho de 1914.
A Rede Ferroviária Federal S/A, empresa brasileira que encampou os serviços da empresa inglesa, erradicados há muitos anos, tem promovido leilões para a venda dos terrenos doados. Politicamente correto seria a reversão de todo o patrimônio imobiliário da Rede Ferroviária para o município de Raul Soares. Sem quaisquer ônus. A doação feita nos primeiros anos do século passado teve uma finalidade especifica; podendo ser caracterizada como uma concessão de direito real de uso. Nos idos de 1996 o Município fez uma concessão similar à Assecras, Sindicato Rural, Polícia Militar e APAE, em relação a terrenos localizados na avenida Profª. Elza Bacelar, com cláusula de reversão na hipótese de encerramento de atividades das entidades ou deixarem elas de preencher as suas finalidades.

INSTALAÇÃO DO NOVO MUNICÍPIO

Em 20 de janeiro de 1924, em reunião da Câmara de Vereadores, foi solenemente instalado o novo município.
Estiveram presentes à histórica reunião os vereadores: Joaquim Milagres Sobrinho (que presidiu a sessão inaugural, como o vereador mais votado) , João Domingos da Silva, José Maria de Souza, Francisco Costa Abrantes, Joaquim José da Silveira, Carlos Gomes Brandão e Raymundo Raphael Coelho. A ata foi lavrada por José Theodoro Alves, oficial da secretaria da Câmara.
O vereador Carlos Gomes Brandão ficou responsável pelas providências pertinentes à instalação do novo município. E para o fiel cumprimento deste mandato, manteve contatos com o Dr. Armando Sodré, Vice - Presidente da Câmara Municipal do município-mãe - Rio Casca - no impedimento do presidente, Dr. Edmundo Rocha. Aparadas todas as arestas assumiu o governo do novo município o vereador Carlos Gomes Brandão, eleito presidente da Câmara Municipal. Àquela época não havia Prefeito Municipal cabendo ao Presidente da Câmara Municipal dupla função. Vigia, então, o parlamentarismo municipal.
A alteração da denominação de Matipóo para Raul Soares ocorrida em 1924, foi uma homenagem ao ilustre homem público Dr. Raul Soares de Moura, Presidente do Estado de Minas Gerais, nascido em Ubá aos 7 de agosto de 1877 e que faleceu em 4 de agosto de 1924, com apenas 47 anos de idade, antes do término de seu mandato de Presidente do Estado para o qual fora eleito para o quatriênio de 1922/1926, pelo Partido Republicano Mineiro, - o glorioso PRM -, fundado por Arthur Bernardes da Silva, um grande político mineiro da cidade de Viçosa. Para aqueles que estranhem a referência a Presidente do Estado de Minas Gerais devemos dizer que a designação de Governador do Estado só passou a existir após a instauração do regime democrático. Na vigência do Estado Novo getuliano - entre 10 de novembro de 1937 e 2 de dezembro de 1945 - o primeiro mandatário do estado denominava-se Interventor.
O eminente Prof. Edward Leão era apologista do adjetivo pátrio RAULENSE, para designar o cidadão nascido em Raul Soares. Contudo, prevaleceu RAUL – SOARENSE ou RAULSOARENSE.


CONCLUSÃO

Esperamos que nessa incursão na história deste querido rincão mineiro tenhamos lançado luzes sobre a origem do município de Raul Soares, esclarecendo e sanando dúvidas sobre as suas datas históricas. Se isto tiver ocorrido, dar-nos-emos por regiamente recompensados.
Tranqüilamente, pode-se dizer que as importantes datas do município de Raul Soares são: 1837 – ano da chegada dos irmãos Cassimiro de Lanna e Domingos de Lanna; 3 de fevereiro, data da criação do distrito de São Sebastião de Entre Rios; 7 de setembro, data da criação (emancipação) do município de Matipóo; 20 de janeiro, data da primeira reunião da Câmara de Vereadores do município de Matipóo e 19 de setembro, data da mudança da denominação de Matipóo para Raul Soares.

Um comentário:

Anônimo disse...

quem foi Jose Alemao,tinha uma pensão