terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Os carroceiros

Trabalhadores especiais


Uma classe de trabalhadores digna de admiração e respeito pela sua conduta e maneira de agir no exercício de suas funções é a dos carroceiros.
O estreito convívio com essa categoria de profissionais, na Sempre Viva e na Industrial São Sebastião (Tarza), amparam esta conclusão. Trata-se realmente de gente honesta, trabalhadora e merecedora de confiança. Prestam á comunidade serviços de importância e de real valor.
Vamos homenagear alguns destes humildes trabalhadores no correr destas linhas.
José Romualdo, da Rua Bom Jesus, nos anos 40, era também um dos músicos da gloriosa Corporação Musical Santa Cecília. Tal era o seu prestígio que, certa época, surpreendendo os moradores da Bom Jesus levou a “banda” á pacata e tranqüila rua, para uma festa íntima comemorativa de aniversário em uma família amiga. José Romualdo cumpriu o que sempre dizia que o faria para homenagear um amigo dileto e á família deste amigo. José Romualdo e filhos tinham veia de artistas e isso fazia com quê improvisassem espetáculos circenses em barracão que armavam no amplo quintal da casa onde moravam.
O carroceiro José Romualdo era o responsável pelo transporte da mercadoria que chegava para a Sempre Viva, procedente de outras praças, via estrada de ferro.
Virgulino e Norberto eram também carroceiros moradores na Rua Bom Jesus. Também muito responsáveis e amigos de todos na comunidade.
José Gentil foi outro prestigiado carroceiro nos bons tempos em que os serviços desses trabalhadores eram requisitados com muita intensidade. Servia a várias empresas. Uma das particularidades de José Gentil era a cadernetinha na qual anotava minuciosamente os seus créditos pelo transporte de mercadorias cujo acerto fazia com aqueles aos quais servia, de tempos em tempos, através de encontro de contas; os comerciantes anotavam o que lhe vendiam, o carroceiro os serviços prestados. Crédito e confiança ilimitados; jamais ocorrendo quaisquer desentendimentos. José Gentil era politicamente ligado a um grupo político e a maioria de seus clientes eram de outra facção o que não lhes impedia de manter um ótimo relacionamento naqueles tempos difíceis de convivência entre grupos políticos adversários.
José Martins, foi um outro membro ativo da classe prestando serviços de valia á população; morador da rua Pe. Chiquinho, a popular rua de Ubá.
Germano, sempre cônscio de seus deveres e responsabilidades, dignificou a classe; Sebastião, não fez por menos.
Liberato e Wantuil foram duas outras figuras de destaque na valorosa classe dos carroceiros. Sempre muito discretos, diligentes e responsáveis na execução das tarefas que lhes eram cometidas.
Atualmente, encontram-se sempre no “ponto” que lhes foi outorgado pelo prefeito Wiron Francisco, exercendo com muita dignidade o seu trabalho, os carroceiros Jésus, personalidade extrovertida e amigo de um bom papo, sobre tudo e com todos, honesto e merecedor de confiança; Joaquim, um veterano da classe, conhecido e admirado por todos, um verdadeiro líder; José Alexandre, manso e amigo; Heitor, depois de tantos anos na Tarza é um atestado vivo da precariedade da previdência social brasileira, tem que continuar “dando duro” para se manter e á sua família; João, um cavalheiro que a todos trata de forma cativante e amiga; Luiz, atencioso, responsável e um prestador de serviços eficiente; o mesmo se pode dizer de Dedé, Dedeca, Raimundo, Geraldo, Gentil, cidadãos merecedores de confiança e muito úteis á população raul-soarense tal o desvelo e atenção que dispensam a todos que dos seus serviços precisam.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

20 de janeiro de 1924:Uma data histórica

A data de 20 de janeiro é muito importante no calendário cívico e religioso de Raul Soares.
É o dia do padroeiro do município (São Sebastião) – dia santo de guarda -, e feriado municipal legalmente instituído.
O município de Raul Soares resultou da emancipação do distrito de São Sebastião de Entre Rios; inicialmente com a denominação de Matipóo.
Emancipação, como é público e notório, é o ato oficial do Estado que cria um novo município.
O distrito de São Sebastião de Entre Rios existiu por força da lei municipal de Ponte Nova n.º 146, de 3 de fevereiro de 1903.
Em 30 de agosto de 1911 a Lei Estadual n.º 556, desmembrou de Ponte Nova o município de Rio Casca, ficando este constituído de três distritos: Rio Casca (a sede), São Pedro dos Ferros e São Sebastião de Entre Rios.
A Lei Estadual n.º 843, de 7 de setembro de 1923, dispondo sobre a divisão administrativa do Estado, sancionada por Raul Soares de Moura, presidente do estado de Minas Gerais, secretariado por Fernando de Melo Vianna, emancipou o distrito de São Sebastião de Entre Rios, como se vê no Capítulo I, Secção Primeira, Art. 2º, na categoria de Villa, surgindo, então, o município de Matipó (Matipóo).
Em 19 de setembro de 1924, através da Lei n.º 862, sancionada por Olegário Maciel, presidente do estado de Minas Gerais, e assinada por Sandoval Soares Azevedo, secretário de Estado dos Negócios do Interior, o município de Matipó (Matipóo) mudou o nome para Raul Soares, homenageando aquele que, em 7 de setembro de 1923, criara o município. O motivo foi o falecimento de Raul Soares, aos 47 anos, em pleno exercício do mandato de presidente do estado de Minas Gerais.
A Lei n.º 893, de 10 de setembro de 1925, elevou Raul Soares á categoria de cidade.
A primeira Câmara Municipal de Raul Soares foi instalada em 20 de janeiro de 1924, tendo a seguinte composição: Joaquim Milagres Sobrinho, Joaquim José da Silveira, Carlos Gomes Brandão, João Domingos da Silva, Francisco Costa Abrantes, Raymundo Raphael Coelho e José Maria de Souza.
Carlos Gomes Brandão foi eleito presidente, e Raymundo Raphael Coelho, vice-presidente. Carlos Gomes Brandão, durante alguns meses no primeiro semestre de 1924 e Raymundo Raphael Coelho, posteriormente, até o ano de 1927, foram os dirigentes de Raul Soares.
Com fundamento na história do município e na lei federal nº 9335 que dispõe sobre os feriados municipais, temos reiteradamente insistido aos eventuais detentores do poder em Raul Soares - Prefeito e Vereadores – a alteração do disposto na lei municipal nº 2023, de 6 de junho de 2006 (artigo 1º). O feriado civil criado em 2006 é ilegal.
Há que se ter em vista que: a) Não foi em 19 de setembro a data da emancipação do município de Raul Soares e b) feriado civil, quando instituído legalmente, somente existirá por ocasião do centenário da emancipação; no caso de Raul Soares, no ano de 2023.
Lamentavelmente, é hábito de alguns prefeitos, com o apoio de eventuais maiorias em câmaras municipais, perpetrar barbaridades desta espécie.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Telefônica de Raul Soares ( T R S )

Na década de 50, sensíveis aos clamores da população um grupo de cidadãos raul-soarenses de índole progressista se lançaram á empreitada de implantar no município o serviço de telefonia.
O serviço telefônico que um dia existiu, em priscas eras, era de pouca eficácia e não deixara saudade.
Propuseram-se a fundar a empresa o Dr. Wilson Elias Salomão, Dr. Gerardo Grossi, Dr. Armando Sodré, Industrial São Sebastião S/A, Jaime Peixoto, Césare Augusto Tartaglia, José Geraldo Leal, Francisco Machado, João Veríssimo Neto, Cícero Romano Pacheco, José da Silva Maia, Thomaz Duboc, Pedro Garíglio Filho, José D´Aquino Leão, Auto Peças Comercial Ltda., José Martins de Andrade, José Abrantes Costa, Fernando José Abrantes, Jorge de Souza Lima e Geraldo de Assis Peixoto.
Foi, então, convocada uma assembléia de constituição da empresa e os estatutos sociais aprovados na reunião realizada em 2 de março de 1958.
Por proposta do acionista José Geraldo Leal foi eleita a seguinte diretoria: Presidente – Dr. Wilson Elias Salomão; Diretor – Superintendente – Jaime Peixoto e Diretor Tesoureiro – Francisco Machado. Ainda por proposta do acionista José Geraldo Leal foram eleitos para o Conselho Fiscal: Membros efetivos – Dr. Armando Sodré, Dr. Gerardo Grossi e Pedro Garíglio Filho. Membros suplentes: Césare Augusto Tartaglia, João Veríssimo Neto e Cícero Romano Pacheco.
A assembléia ratificou todos os atos e gestões dos fundadores, á frente Jaime Peixoto e José Geraldo Leal, inclusive o contrato firmado com a Ericsson do Brasil Comércio e Indústria S/A, para fornecimento de um centro telefônico sueco.
A diretoria foi autorizada a efetuar todas as despesas para a legalização da sociedade, comprovando-as com os documentos pertinentes para que fossem indenizadas.
O acionista José Geraldo Leal ficou responsável pelas providências legais para o funcionamento regular da empresa.
Cumprindo a determinação da assembléia foi providenciado o arquivamento na Junta Comercial dos documentos, sob o n.º 88.260, em 25 de março de 1958, e a sua publicação no Órgão Oficial do Estado - MINAS GERAIS, em 25 de junho de 1958 e no jornal local – O IMPARCIAL, em 29 de junho de 1958.
A fim de atender os compromissos com a ERICSSON e a compra de terreno a empresa emitiu partes beneficiárias, com ampla aceitação da população.
A organização burocrática para o funcionamento da TRS mereceu toda a atenção dos responsáveis pelo seu funcionamento. Muito importante para este fim foi o contato feito com a Telefônica de Manhuaçu pelos diretores Jaime Peixoto e Francisco Machado, assessorados pelo acionista José Geraldo Leal.
Concluída a montagem do equipamento a TRS iniciou as suas atividades num clima de muito entusiasmo. Inicialmente, restringia-se a ligações locais. Os esforços da diretoria, respaldados no prestígio, junto ao pode público do acionista Dr. Gerardo Grossi, possibilitou ampliar o serviço passando os assinantes a ter acesso a ligações interurbanas, que inicialmente eram muito difíceis e demoradas, gerando incontáveis reclamações o que motivou muitas gestões e esforços para melhoria do serviço.
Finalmente, a encampação da TRS pela TELEMIG possibilitou a Raul Soares contar com um serviço de telefonia moderno e eficiente.
Aspectos interessantes e dignos de menção ocorreram durante a existência da TRS, pouco comum nos meios empresariais: Um deles, a disponibilização dos acionistas (a maioria deles) ao assumir cargos na diretoria e no conselho fiscal, sem remuneração. Outro, o desprendimento e o espírito comunitário, demonstrados por ocasião das negociações para encampação da TRS pela TELEMIG.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Usina de açucar

Entre os anos 30 e 40 uma usina de açúcar passou a se constituir o anseio maior da população de Raul Soares. As terras férteis do município garantiriam boa parte da matéria prima e gerariam mais empregos.
José Raimundo Nogueira de Souza – o Juquinha do Coxo – empresário e homem de muita visão nos negócios, empolgou-se com a idéia e lançou-se ao trabalho de organização do empreendimento. Com o correr dos dias, porém, constatou os empecilhos que existiam, a maioria deles criados pelo Instituto do Açúcar e do Álcool – IAA, o órgão público responsável pelo exame e deferimento dos processos pertinentes á produção do açúcar e do álcool. Fácil é imaginar-se as dificuldades estando o Brasil sob a tutela da ditadura instaurada em 1937 pelo presidente Getulio Vargas. Juquinha, capitulou, voltando-se para atividades empresariais menos complexas.
Anos depois o Cel. Amantino Maciel, candidato á Assembléia Legislativa de Minas Gerais, reviveu as esperanças de uma usina de açúcar em Raul Soares comprometendo-se a trabalhar neste sentido caso eleito deputado estadual. Não se elegeu.
Mais adiante, uma negociação foi iniciada com o Dr. Ubaldo Ribeiro, de Jequerí (MG), proprietário de uma usina que desejava vender. O Dr. Armando Sodré, sempre com muita disposição para novos investimentos em Raul Soares, fez alguns estudos a respeito concluindo pela inviabilidade do negócio. Mais uma frustração.
Passado algum tempo um empresário de Campos, estado do Rio de Janeiro, Sebastião Bueno,fez contato com o Dr. Armando Sodré dando-lhe ciência de que tomara conhecimento do seu interesse e outros empresários de Raul Soares na instalação de uma usina em Raul Soares, através de Agrício, um técnico na administração de usina de açúcar e com fama de obter excepcionais índices de aproveitamento na produção e do corretor Paulo Torres, especialista em compra e venda de usinas de açúcar, ambos residentes em Visconde do Rio Branco, estado de Minas Gerais.
O Dr. Armando Sodré, com o entusiasmo que lhe era peculiar, convidou o empresário Jaime Peixoto para participar da implantação do empreendimento mostrando-lhe as vantagens que teria o município, com a geração de impostos, os proprietários de terras, com mais uma fonte de renda com o plantio de cana e a população, com mais empregos. Jaime Peixoto, um homem voltado sempre para o progresso de Raul Soares, aceitou os argumentos do Dr. Armando Sodré e integrou-se ao trabalho em prol da implantação da usina.
Novos contatos foram feitos com o empresário fluminense ficando ajustado que a participação de Sebastião Bueno seria através do equipamento completo para uma usina cabendo aos acionistas de Raul Soares entrar com um terreno cuja compra deveriam providenciar e uma parcela em dinheiro, para capital de giro.
Ficou acertado, então, que oportunamente seria marcada data e local para uma reunião, a fim de ser discutido os estatutos da empresa que seria organizada - uma sociedade anônima, e outros detalhes pertinentes á instalação da usina. Seriam liberados e despachados imediatamente para Raul Soares alguns equipamentos para assentamento no terreno cuja compra deveria ser agilizada.
A remessa de equipamento foi de fato feita e a aquisição do terreno ocorreu.
A reunião aconteceu em Muriaé com a presença do Dr. Armando Sodré, de Jaime Peixoto e do colunista, como assessor; do usineiro Sebastião Bueno, de um irmão dele e um assessor.
Logo ao inicio da reunião o Dr. Armando Sodré solicitou a Sebastião Bueno que lhe fosse entregue uma relação dos bens que por ele seriam entregues já que a referência ao seu compromisso de entrar para a sociedade com uma “usina completa” era bastante genérica e inaceitável por aqueles que iriam subscrever ações da empresa.
Como assessor objetei que as disposições estatutárias relativas a depreciação eram tecnicamente incorretas. Não poderiam jamais sair de lucros apurados por estes representarem “custo”. Da forma como estavam nos estatutos só poderia existir depreciação do equipamento industrial quando houvesse lucro. E isto seria inconcebível. O desgaste do equipamento ocorreria sempre, pelo uso constante, houvesse lucro ou prejuízo.
Foi, ainda, questionada a indicação de Sebastião Bueno para presidente da empresa e a do irmão dele para a gerência administrativa e financeira.
Estas questões ficaram de ser examinadas e solucionadas definitivamente em uma próxima reunião. Porém, no que tange a relação solicitada e o questionamento sobre a depreciação, Sebastião Bueno adiantou. julgava-as pertinentes.
Os dias correram, as questões levantadas não foram atendidas com a presteza que se fazia necessário.
Nenhuma nova reunião foi marcada.
Os entendimentos foram então suspensos e finalmente cancelados definitivamente. Jaime Peixoto responsabilizou-se integralmente pelo pagamento do terreno adquirido para a usina e ali projetou o loteamento do Bairro Esperança; o dinheiro dos acionistas em pagamento de subscrição de ações foi integral e corretamente devolvido.
De forma melancólica fracassou mais esta iniciativa para a instalação de usina de açúcar em Raul Soares.
Finalmente, o então jovem empresário Pedro Gariglio Filho, com o entusiasmo peculiar á sua personalidade ativa e atuante levou avante com relativo sucesso a implantação da usina de açúcar em Raul Soares e durante alguns anos, na década de 60, consumimos um produto fabricado por uma indústria raul-soarense, a Usina Júlio Reis, da Cia. Agrícola Maperi – Comércio e Indústria.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Fábrica de tecidos

SÃO TARCÍSIO

A criação de uma fábrica de tecidos em Raul Soares atendia vários aspectos relevantes:
a)A ânsia desenvolvimentista de seus fundadores.
b)A inserção de mais um item, de natureza nobre, na pauta industrial do município.
c)A geração de impostos e empregos.
d)Obviamente, a distribuição de lucros aos sócios por se tratar de um empreendimento de fins econômicos.
O médico Dr. Wilson Elias Salomão, alguns de seus familiares e outros acionistas foram os responsáveis pela existência da Industrial São Tarcísio, inicialmente constituída sob a forma de sociedade por quotas de responsabilidade, transformada posteriormente em sociedade anônima.
O momento da fundação foi oportuno e durante um bom período de tempo o funcionamento da São Tarcísio foi inquestionavelmente muito importante á economia do município. O país estava em expansão. Os produtos que fabricava tinham bom mercado.
O impostos e contribuições pagos ao erário público colaboraram para o crescimento do bolo destinado aos repasses constitucionais – FPM e ICMS.
Os salários pagos foram importantes á manutenção e á dignidade de dezenas de trabalhadores.
As dificuldades que surgiram foram exclusivamente fruto de uma economia de incrível volatilidade acrescida de um fato de importância singular: A saúde pública carecia de uma maior assistência do principal responsável pela criação da São Tarcísio, o extraordinário e humanitário médico Dr. Wilson Elias Salomão. Viu-se o médico em uma encruzilhada: a) Dedicar-se exclusivamente á indústria – full-time ou b) dedicar-se com mais intensidade ao hospital e ao seu consultório. Não teve dúvidas: o atendimento á saúde da população era mais importante. Esforçou-se para não sacrificar a São Tarcísio – contratação de administradores, terceirização, arrendamento. Os resultados não foram satisfatórios. A paralisação das atividades da empresa com honra e dignidade foi o caminho recomendado pela prudência e respeito á saúde e reclamos dos raul-soarenses.

Fábrica de enxadas

TARZA

No inicio da década de 40 do século passado com o mundo tomado pelos horrores de uma guerra sangrenta, resultado da ambição de um tirano, o jovem mecânico Césare Augusto Tartaglia com o apoio do empresário José Raymundo Nogueira de Souza, o Juquinha do Cocho, criou em Raul Soares uma fábrica de enxadas para suprir a demanda existente ante a escassez do produto em decorrência do envolvimento da Inglaterra, principal fornecedor do produto para o Brasil, no conflito mundial. Juquinha do Cocho, como Césare, era chefe de uma família numerosa. Pai de Wiron Francisco de Souza Xavier que algumas décadas após se tornaria prefeito de Raul Soares (1989/1992), o maior prefeito de todos os tempos assim considerado quase que á unanimidade.
Césare e Juquinha constituíram a firma Tartaglia & Souza adotando a marca TARZA sendo TAR de TAR-taglia e ZA de Sou-ZA.
Vítima de choque anafilático Juquinha faleceu em 1945. Ante a impossibilidade de continuidade da firma Tartaglia & Souza por serem de menoridade todos os filhos de Juquinha, o inquieto e progressista mecânico Césare formou um novo grupo de cidadãos que acreditaram no seu projeto e tinham em alta conta o progresso de Raul Soares: Dr. Armando Sodré, Dr. Gerardo Grossi, Luiz Grossi, Chafith Sad, José Sinfrônio de Castro e Bernardino Aladino Caldas. Surgiu, então, em abril de 1946, a Industrial São Sebastião Ltda. sob a direção do Dr. Armando Sodré, presidente, e Césare Augusto Tartaglia, gerente.
No ano de 1949, a sociedade foi alterada para sociedade anônima, para ampliação da fábrica. Passou, então, a contar com empresários de sucesso em Raul Soares, dentre estes: Fernando Gomes Valle e Jayme Peixoto. Na direção continuaram o Dr. Armando Sodré e Césare Augusto Tartaglia.
Decidindo retirar-se da sociedade o empresário Fernando Gomes Valle que estendia os seus negócios para grandes praças do país - Rio de Janeiro e Belo Horizonte - transferiu o controle acionário da empresa, que passara a ter ante a sua admissão no quadro social em 1949 e sucessivas compras feitas a outros acionistas, para o também empresário Jayme Peixoto.
No período de 1946 a 1953 a responsabilidade contábil e a assessoria administrativa ficou a cargo de dois profissionais de valor, Luiz Pimentel e Antonio Queiroz.
Na década de 50 assumiu a presidência da Industrial São Sebastião S/A o acionista Jayme Peixoto, um empresário de muito tirocínio e um cidadão de fino trato, um gentleman.
A convite de Jayme Peixoto o escriba assumiu a responsabilidade da chefia do escritório da empresa.
Na gestão de Jayme Peixoto a Industrial São Sebastião S/A progrediu muito e apresentou excelentes resultados.
A preocupação com o social motivou a inserção nos estatutos sociais de um artigo possibilitando aos empregados a participação nos lucros sociais, o chamado e ansiado 6%, pago aos empregados dentro dos primeiros quatro meses do ano, após aprovação do balanço pelos acionistas reunidos em assembléia geral ordinária. Em caráter pioneiro na região, e talvez no país dentre as empresas de porte médio e de capital fechado, a empresa incluiu em seus estatutos a participação de seus empregados no lucro da empresa.
Antecedeu, também, á Lei n.º 4.090, de 13 de julho de 1962, que instituiu a gratificação de Natal publicada no D.O.U. de 26.07.62, ao pagar em um ano em que os lucros foram considerados excelentes, além da participação nos lucros, uma gratificação natalina; estipulando valor idêntico para cada empregado, independentemente do valor de seu estipêndio mensal.
A Industrial São Sebastião S/A era realmente uma família.
Nem a ação deletéria de uma pseuda liderança ligada a sindicato ferroviário, de inclinação nitidamente comunista, mexeu com a sua estrutura.
Neste período a empresa não foi convocada aos tribunais trabalhistas ou fiscais, em nenhum momento, para responder por quaisquer infrações.
Em 1978, os acionistas majoritários deliberaram transferir o controle acionário da empresa, assumindo-o o grupo Pereira, Martins & Cia. Ltda., de Coronel Fabriciano. A experiência empresarial dos novos controladores aliada ao seu poderio economico-financeiro ensejou um grande progresso á empresa. A ação inconseqüente de alguns fez com quê arrefecesse o entusiasmo dos novos controladores motivando a venda da empresa para um grupo inglês, fabricantes dos afamados produtos de marca Tupy, Duas Caras e Jacaré.
Os ingleses, certamente levados por análises de mercado e suas conjunturas, decidiram sair do mercado, vendendo para outrem, boa parte da maquinaria que havia sido incorporada á Industrial São Sebastião S/A, no período de controle do grupo Pereira Martins, que haviam sido adquiridos em Nova Era, em licitação judicial dos bens de uma empresa siderúrgica falida, e no Rio Grande do Sul, de uma empresa que decidiu se afastar do ramo industrial de ferramentas agrícolas.
Pela sua tradição no mercado brasileiro e acomodadas as situações de desconforto em que se viu envolvida a Industrial São Sebastião S/A, fruto de alguns momentos de desvario e de férias coletivas da razão, dias melhores certamente marcarão o futuro desta empresa tão querida e admirada pelos raul – soarenses.

Fábrica de eletrodos

TARTAGLIA


A experiência adquirida por Césare Augusto Tartaglia na Tartaglia & Souza, cuja existência foi curta, e na Fábrica de Enxadas Tarza, por algumas décadas; os estreitos contatos com diretores e técnicos de grandes empresas como os da White Martins, Hime, Aços Villares, e principalmente da Belgo Mineira (Dr. Louis Ensch, Dr. Hein, Dr. Mayer e outros), incentivaram-no á ambiciosa iniciativa de criação de uma fábrica de eletrodos em Raul Soares.
Na Tarza já vinha sendo utilizado um processo inédito de calçamento de enxadas, através de eletrodos, cuja fórmula fora idealizada por Césare na década de 40. O empresário imaginou fazer a recuperação de lâminas de trator com um eletrodo especial, que chamou “ponta de diamante”. Os executivos da White Martins informaram-lhe que a empresa deveria paralisar as atividades de sua fábrica e poderiam transferir para ele algumas das máquinas que ficariam ociosas. Uma prensa de elevada capacidade de pressão interessou a Césare. A White Martins poderia comprar mensalmente boa parte da produção, com a marca Brinarc, que desejava continuar comercializando. A proposta se concretizou, a prensa foi comprada por Césare e os eletrodos que veio a fabricar tinham na embalagem a marca de fantasia Brinarc, o nome do fabricante (Tartaglia) e o local de fabricação do produto (Raul Soares).
Césare procurava suprir as deficiências técnicas e de equipamento de sua fábrica com muito trabalho e criatividade. Contou com a colaboração de um grande mecânico e amigo, que se especializara na confecção de matrizes de aço na fábrica de enxadas, o saudoso Joaquim Mateus. Mas, faltava algo mais para que a fábrica deslanchasse, um certificado do Loyd´s Register que possibilitaria vendas para a indústria naval. Com a sua habitual coragem e pertinácia Césare partiu para a empreitada com a ajuda do irmão Pipe, exímio soldador. Os corpos de prova solicitados foram preparados com esmero; foram aprovados em muitos testes, mas não em todos. O motivo: Falta de condições para importar máquinas de melhor qualidade e precisão que certamente sanariam as deficiências dos eletrodos fabricados.
Já idoso, com esgotamento físico e psicológico, das lutas empresariais, Césare decidiu passar adiante as suas idéias e a fábrica de eletrodos.
Após algum tempo, que não sei precisar se meses ou anos, o adquirente da empresa paralisou as suas atividades.