sábado, 2 de fevereiro de 2008

Comércio e Indústria

Pioneiros em Raul Soares

O distrito de São Sebastião de Entre Rios, que foi criado em 3 de fevereiro de 1903 e que se tornou o município de Matipóo, em 7 de setembro de 1923, na categoria de Vila, com nomenclatura alterada para Raul Soares em 19 de setembro de 1924, ocupava uma grande extensão territorial (892 Km2.). Suas terras cobertas de uma vegetação exuberante; uma densa floresta e situação geográfica privilegiada, despertaram a atenção dos empresários e homens de negócios da região.
As terras ubérrimas incentivaram o cultivo de cereais (arroz, milho, feijão). As lavouras de café engalanaram os campos. O gado bovino se fez presente. As matas motivaram as primeiras iniciativas industriais - as serrarias.
Os trilhos da Estrada de Ferro Leopoldina, chegados em 1916, e a inauguração da estação de Matipóo, dinamizaram as atividades do lugar. Os produtos locais e da região passavam pela estação de Matipóo com destino ao Rio de Janeiro, capital do Pais.
O comércio cresceu e prosperou.
Empresários de outras praças chegaram a Villa de Matipóo certos de que os seus investimentos teriam bom retorno.
A criação de aves (galinhas) tornou-se uma atividade interessante, ante a simplicidade da exploração, o baixo custo do investimento e a forte demanda; muitos eram os compradores de aves e ovos para remessa para a Capital Federal, por via férrea.
Rodolpho Batista, negociante de gêneros produzidos no Brasil anunciava a sua condição de comprador de qualquer quantidade de ovos e galinhas.
Manoel Alvarez, espanhol, foi um dos grandes compradores de aves e ovos em Raul Soares.
Durante muito tempo, o nosso saudoso Nico Zoia foi um ativo comerciante do ramo.
No comércio de São Sebastião de Entre Rios participavam ativamente:Aristides Pancrácio Alves de Souza, no ramo de farmácia; Rufino Martha da Rocha, “negociante de fazendas, armarinhos, ferragens, calçados, louças, arreios, chapéus de sol e de cabeça e também proprietário de uma boa farmácia.“; João Domingos da Silva, explorava o mesmo ramo de Rufino Rocha, com exceção de farmácia, e mais: comercializava café, em alta escala, vendia sal, querosene, cal, farinha de trigo, arame farpado e outros artigos (A Sentinella-1917); Casa Brandão, de Brandão & Sobrinho, comerciava fazendas, armarinhos, ferragens, perfumarias, louças, calçados, chapéus, operavam uma excelente máquina para beneficiar café e arroz, como informavam em seus reclames pela imprensa; a Casa Rocha - O Empório da Barateza -, de Leopoldino Rocha, vendia também fazendas, armarinhos, louças e roupas feitas; Fraga, Irmão & Comp., negociantes, intermediários e compradores de café, vendas por atacado e a varejo, recebendo cargas em consignação e café para despachar ou encostar, depositários da Standard Oil Company of Brasil, com Casa Matriz em Santa Luzia de Carangola e filiais no Rio e nas estações de Manhuaçu, Jequitibá, Manhumirim, além de Matipóo. Estoque permanente de sal, querosene, farinha de trigo, ferragens etc. (Noticias do jornal 0 Entre Rios – 1918).
Assad Chequer & Cia., distribuidor do cimento Mauá, um produto da Cia. de Cimento Portland, do Rio de Janeiro, comerciante de materiais de construção, ferragens grossas, material elétrico em geral. Assad Chequer, na década de 30, teve ainda o mérito de liderar a instalação de uma usina hidroelétrica e muitos anos após , juntamente com o filho José Sad, foi o responsável pela montagem de uma moderna serraria na rua Juca Amâncio; Salim & Irmão, com casa matriz em Raul Soares, anunciava-se comprador de café, em grande escala, cereais e suínos e comercialização de máquinas para café e arroz; Messias Silva, estabelecido na Praça da Estação com armazém de cereais, sal, querosene, agente da Atlantic Refining Comp. of Brasil, instalou a primeira torrefação de café de Raul Soares - o café Tupam; Pedro Gariglio Sobrinho, com estabelecimentos agrupados sob o sugestivo título de Industrias Reunidas Brasil, á rua Lindolfo Campos, era um dos grandes comerciantes de Raul Soares: comprador de café e cereais em grande escala, beneficiador de café e arroz, moinho de fubá e padaria fundada em 6 de junho de 1923, oferecendo diariamente pães doce e de sal, roscas, bolachas secas e especial fabricadas com farinha de primeira qualidade; alguns anos depois Calixto Antônio também participou do mercado de panificação. Mais adiante, Sílvio Nogueira de Castro, que ainda permanece atuante, se lançou no mercado de panificação; José Pereira Lisboa, comprador de café em alta escala á rua da Estação; fundador da Associação Comercial, Industrial e Lavoura de Raul Soares; Nicolau Simas, difundiu cultura vendendo livros e editando o jornal Raul Soares tendo impresso dois livros do Prof. Edward Leão (Alma Errante e Tapera Ensolarada). As atividades da Tipografia Americana remontam á década de 20; José de Oliveira (Juquinha de Oliveira), estabelecido á rua Lindolfo Campos com o comércio de ferragens, louças, armarinho, calçados, perfumarias, miudezas, mantimentos e molhados com o título comercial A Esperança.; José Natalino, estabelecido á praça Olegário Maciel (atualmente Av. Prefeito Wilson Damião) com o Bar Natalino, oferecia á população serviços de bilhares e snooker, artigos de papelaria, livros em branco para o comércio, tintas, doces, frutas, cigarros, conservas, biscoitos, bombons, objetos para presente; Rossine Ribeiro de Castro, com o seu Mercadinho Central vendia artigos bons e baratos (mantimentos em geral, conservas de todas as qualidades, bebidas, fumos, doces, biscoitos, balas, queijos, graxas, tintas etc.) (Raul Soares, semanário independente–abril de 1936); Moacyr Búbula, com comércio e secos e molhados á rua Pe. Chiquinho, Hermogenes Lobo também com estabelecimento comercial na rua Pe. Chiquinho Lobo; Joaquim Ribeiro de Castro, com o Bazar Fortaleza, comércio de tecidos e ferragens, sucedido por José da Silva Maia (Bazar São Cristóvão); José Fernandes Leal, com o título A Sempre Viva, na rua Bom Jesus, com comércio de cereais, armarinho e compra de arroz e feijão; Augusto, Nelson e Adalberto Noronha, pai e filhos, que deixaram uma forte marca na vida comercial de Raul Soares, pela operosidade e integridade que imprimiam aos seus negócios; José Sabbagh e Nicolau Sabbagh, com o inolvidável Colosso da Mata, tiveram uma presença marcante na vida do município; os irmãos Valle (Fernando, Francisco e Jonathas), com início na década de 30, com A Casa das Novidades, o Hotel Brasil e mais adiante com a Autominas (venda de veículos) muito fizeram para o crescimento e modernização do comércio de Raul Soares; as duas Casas Sampaio, de forte penetração popular, geridas pelos irmãos José Aleixo Sampaio e Osvaldo Sampaio; as Casas Pernambucanas, também acreditaram no potencial de desenvolvimento de Raul Soares aqui instalando um estabelecimento comercial com mercadoria (tecidos de qualidade); Jayme Peixoto, com a sua União, foi um comerciante muito criativo; comprador de café, industrial, participou e colaborou ativamente para o crescimento e desenvolvimento de Raul Soares.
No ramo hoteleiro o Hotel Silveira é uma das referências nos idos de 1918, a Pensão dos Milagres teve o seu tempo no centro da cidade, O Hotel Natalino um marco no ramo hoteleiro. Importante, ainda, a lembrança da Pensão do Licério, também na área central da cidade bem como a Pensão do Otávio Chaves e o Hotel do Careca.
Na área industrial os primeiros estabelecimentos foram as serrarias, facilmente explicável, pela fartura de madeira. Armando Sodré, empresário, com muitas propriedades agrícolas (Serra, Recreio, Taquarussú, Cachoeira Alegre, Matipóo e Capichaba) dava notícia no jornal Raul Soares, edição de 12 de abril de 1936, de suas metas: exportação de madeiras em bruto e serradas em alta escala e a existência de uma serraria em Raul Soares e depósito de madeiras com carpintaria em Belo Horizonte na avenida do Contorno; José Molinari, proprietário da Serraria São José anunciava ter sempre em estoque madeiras serradas em tábuas, caibros, ripas, engradamentos de diversas bitolas, etc., para venda por atacado e a varejo a preços vantajosos e que possuindo matas próprias aceitava encomendas que seriam executadas com o máximo cuidado e presteza; J. S. Mota & Cia. Ltda., exportadores em alta escala de madeiras em toras e serradas para móveis e construções, operava em Raul Soares com uma grande serraria á rua Pe. Chiquinho - a Serraria Mota, com depósito á rua Aarão Reis, em Belo Horizonte (MG); Dr. Manoel Máximo Barbosa, também era proprietário de uma serraria em Raul Soares e depósito em Belo Horizonte; a Serraria Andrade, de José Martins Andrade, localizada na rua Pe. Chiquinho também participou do mercado de madeira. José Andrade foi também um dos grandes produtores rurais do município. Com a exaustão das reservas florestais a atividade foi-se reduzindo paulatinamente.
Césare Augusto Tartaglia foi um exemplo de trabalho e pertinácia na busca de seus objetivos. Nos anos 30 esteve estabelecido em Raul Soares com oficina mecânica em geral: niquelagem e oxidação em armas e ferramentas, reparações em máquinas frigorificas e caminhões e uma fábrica de gelo, sorvetes, picolés etc. (Sorveteria Ideal). Foi o responsável por dois dos principais projetos industriais no município de Raul Soares: A fábrica de enxadas Tarza, inicialmente em parceria com José Raimundo Nogueira de Souza, sob os auspícios da firma Tartaglia & Souza, e a partir de abril de 1946, constituindo a Industrial São Sebastião Ltda. tendo como sócios: Armando Sodré, Gerardo Grossi, José Sinfronio de Castro, Luiz Grossi, Chafith Sad e Bernardino Aladino Caldas. O outro projeto de Tartaglia foi uma fábrica de Eletrodos que transferido a terceiros, em virtude de doença do empresário, não teve prosseguimento.
Na década de 30 Ângelo Dominato (Neném Dominato ou Neném do Macarrão) instalou uma fábrica de macarrão na rua Pe. Chiquinho.
Industrial São José, uma empresa de Altivo Rodrigues de Matos,oficina mecânica com fundição de ferro e bronze, fabricante da máquina de marca Vulcão para beneficiar café, engenhos de cana, moinhos para fubá, máquinas para arroz, turbinas PELTON, tubulações etc. Comprador e exportador de madeiras. Matos foi, ainda, concessionário do cimento Cauê, vendendo também açúcar. Um dos desafios que enfrentou com relativo sucesso foi a fabricação de refrigerantes.
José Pascoal em anúncio de jornal dizia: “comunica a sua distinta freguesia que já tem instalado em sua Oficina Mecânica São Geraldo á rua Camilo de Moura n.º 31, um torno mecânico grande, com capacidade para tornear qualquer tipo de carcassa para caminhões e peças grandes em geral.”
Finalmente, é importante referirmo-nos ás casas comerciais Casa Caboclo, de Gomes, Filho & C., sucessores de Gomes & Filho, comerciantes de sal, querosene, farinha de trigo e um grande sortimento de fazendas, armarinho, ferragens, calçados, chapéus, perfumaria e muitos outros artigos, agentes da Anglo Mexican Petroleum Co. Ltd., depositários do afamado querosene Aurora e da gasolina Energina; compradores de café e cereais, recebendo cargas em consignação e café para encosta e despachar; Casa Galvão, de Luiz Abreu Galvão & C., comerciantes de fazendas, armarinho, modas, calçados, ferragens e muitas novidades tendo sempre em depósito sal, cal, cimento, tintas, óleos, fósforo. Compradores e exportadores de café e cereais. Depositários do querosene Jacaré e da gasolina Motano, também recebendo cargas á consignação e café para encostar e despachar; Silva, Cunha & Comp., exportadores de capados, toucinho, lombo, banha e cereais; Canuto, Silva & C. (A Esperança), com comércio de fazendas, armarinho, roupas, perfumaria, secos e molhados; Chaves & Brandão, com ferragens, calçados, louças e muitos outros artigos de primeira ordem. Compradores de cereais e capados; Francisco Abrantes Costa (Chiquinho Costa), com moinho para fubá na rua Pe. Chiquinho, e que teve como sucessor José Elias, com familiares que ainda hoje mourejam no mesmo local, com uma linha maior e mais sofisticada de produtos; Juquinha Liberato, operou uma fábrica de farinha na rua Pe. Chiquinho e, posteriormente, foi proprietário da Padaria Central, sucedendo a Calixto Antonio que se transferiu para Juiz de Fora.
Outros pioneiros, como José Nagem, Joaquim Avelino, Francisco Maia (compradores de cereais), Geraldo Carvalho – Casa Imperial, Florentino Fernandes – Casa Fernandes, Oriel Moreira Pinto, e certamente muitos outros, que, por um lapso de memória não estão aqui registrados, - todos - , colaboraram efetivamente para a dinamização e desenvolvimento comercial de Raul Soares.
E muito se tem que dizer e lembrar do trabalho diuturno e dedicado do abnegado farmacêutico José Lopes Baião, o Prof. Baião, e do farmacêutico Antonio Gomes de Barros, ambos imbuídos do mesmo espírito de vida e solidariedade humana dos farmacêuticos Aristides Pancrácio Alves de Souza e Rufino Marta da Rocha, cuidando da saúde de nossos antepassados do distrito de São Sebastião de Entre Rios (1903), do município Villla de Matipóo (1923), do município Villa de Raul Soares (1924) e da cidade de Raul Soares (1925).

Um comentário:

Bloco Carnavalesco "Desesperadas" disse...

Parabéns José Leal! As escolas de Raul Soares deveriam usar suas aulas de história sobre Raul Soares como material de estudo.É extremamente didático sabermos da história do local onde nascemos. Eu aprendi demais depois que estou acompanhando suas matérias. Estou embevecida com a sua competência e ética.