terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Usina de açucar

Entre os anos 30 e 40 uma usina de açúcar passou a se constituir o anseio maior da população de Raul Soares. As terras férteis do município garantiriam boa parte da matéria prima e gerariam mais empregos.
José Raimundo Nogueira de Souza – o Juquinha do Coxo – empresário e homem de muita visão nos negócios, empolgou-se com a idéia e lançou-se ao trabalho de organização do empreendimento. Com o correr dos dias, porém, constatou os empecilhos que existiam, a maioria deles criados pelo Instituto do Açúcar e do Álcool – IAA, o órgão público responsável pelo exame e deferimento dos processos pertinentes á produção do açúcar e do álcool. Fácil é imaginar-se as dificuldades estando o Brasil sob a tutela da ditadura instaurada em 1937 pelo presidente Getulio Vargas. Juquinha, capitulou, voltando-se para atividades empresariais menos complexas.
Anos depois o Cel. Amantino Maciel, candidato á Assembléia Legislativa de Minas Gerais, reviveu as esperanças de uma usina de açúcar em Raul Soares comprometendo-se a trabalhar neste sentido caso eleito deputado estadual. Não se elegeu.
Mais adiante, uma negociação foi iniciada com o Dr. Ubaldo Ribeiro, de Jequerí (MG), proprietário de uma usina que desejava vender. O Dr. Armando Sodré, sempre com muita disposição para novos investimentos em Raul Soares, fez alguns estudos a respeito concluindo pela inviabilidade do negócio. Mais uma frustração.
Passado algum tempo um empresário de Campos, estado do Rio de Janeiro, Sebastião Bueno,fez contato com o Dr. Armando Sodré dando-lhe ciência de que tomara conhecimento do seu interesse e outros empresários de Raul Soares na instalação de uma usina em Raul Soares, através de Agrício, um técnico na administração de usina de açúcar e com fama de obter excepcionais índices de aproveitamento na produção e do corretor Paulo Torres, especialista em compra e venda de usinas de açúcar, ambos residentes em Visconde do Rio Branco, estado de Minas Gerais.
O Dr. Armando Sodré, com o entusiasmo que lhe era peculiar, convidou o empresário Jaime Peixoto para participar da implantação do empreendimento mostrando-lhe as vantagens que teria o município, com a geração de impostos, os proprietários de terras, com mais uma fonte de renda com o plantio de cana e a população, com mais empregos. Jaime Peixoto, um homem voltado sempre para o progresso de Raul Soares, aceitou os argumentos do Dr. Armando Sodré e integrou-se ao trabalho em prol da implantação da usina.
Novos contatos foram feitos com o empresário fluminense ficando ajustado que a participação de Sebastião Bueno seria através do equipamento completo para uma usina cabendo aos acionistas de Raul Soares entrar com um terreno cuja compra deveriam providenciar e uma parcela em dinheiro, para capital de giro.
Ficou acertado, então, que oportunamente seria marcada data e local para uma reunião, a fim de ser discutido os estatutos da empresa que seria organizada - uma sociedade anônima, e outros detalhes pertinentes á instalação da usina. Seriam liberados e despachados imediatamente para Raul Soares alguns equipamentos para assentamento no terreno cuja compra deveria ser agilizada.
A remessa de equipamento foi de fato feita e a aquisição do terreno ocorreu.
A reunião aconteceu em Muriaé com a presença do Dr. Armando Sodré, de Jaime Peixoto e do colunista, como assessor; do usineiro Sebastião Bueno, de um irmão dele e um assessor.
Logo ao inicio da reunião o Dr. Armando Sodré solicitou a Sebastião Bueno que lhe fosse entregue uma relação dos bens que por ele seriam entregues já que a referência ao seu compromisso de entrar para a sociedade com uma “usina completa” era bastante genérica e inaceitável por aqueles que iriam subscrever ações da empresa.
Como assessor objetei que as disposições estatutárias relativas a depreciação eram tecnicamente incorretas. Não poderiam jamais sair de lucros apurados por estes representarem “custo”. Da forma como estavam nos estatutos só poderia existir depreciação do equipamento industrial quando houvesse lucro. E isto seria inconcebível. O desgaste do equipamento ocorreria sempre, pelo uso constante, houvesse lucro ou prejuízo.
Foi, ainda, questionada a indicação de Sebastião Bueno para presidente da empresa e a do irmão dele para a gerência administrativa e financeira.
Estas questões ficaram de ser examinadas e solucionadas definitivamente em uma próxima reunião. Porém, no que tange a relação solicitada e o questionamento sobre a depreciação, Sebastião Bueno adiantou. julgava-as pertinentes.
Os dias correram, as questões levantadas não foram atendidas com a presteza que se fazia necessário.
Nenhuma nova reunião foi marcada.
Os entendimentos foram então suspensos e finalmente cancelados definitivamente. Jaime Peixoto responsabilizou-se integralmente pelo pagamento do terreno adquirido para a usina e ali projetou o loteamento do Bairro Esperança; o dinheiro dos acionistas em pagamento de subscrição de ações foi integral e corretamente devolvido.
De forma melancólica fracassou mais esta iniciativa para a instalação de usina de açúcar em Raul Soares.
Finalmente, o então jovem empresário Pedro Gariglio Filho, com o entusiasmo peculiar á sua personalidade ativa e atuante levou avante com relativo sucesso a implantação da usina de açúcar em Raul Soares e durante alguns anos, na década de 60, consumimos um produto fabricado por uma indústria raul-soarense, a Usina Júlio Reis, da Cia. Agrícola Maperi – Comércio e Indústria.

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