domingo, 6 de janeiro de 2008

Fábrica de enxadas

TARZA

No inicio da década de 40 do século passado com o mundo tomado pelos horrores de uma guerra sangrenta, resultado da ambição de um tirano, o jovem mecânico Césare Augusto Tartaglia com o apoio do empresário José Raymundo Nogueira de Souza, o Juquinha do Cocho, criou em Raul Soares uma fábrica de enxadas para suprir a demanda existente ante a escassez do produto em decorrência do envolvimento da Inglaterra, principal fornecedor do produto para o Brasil, no conflito mundial. Juquinha do Cocho, como Césare, era chefe de uma família numerosa. Pai de Wiron Francisco de Souza Xavier que algumas décadas após se tornaria prefeito de Raul Soares (1989/1992), o maior prefeito de todos os tempos assim considerado quase que á unanimidade.
Césare e Juquinha constituíram a firma Tartaglia & Souza adotando a marca TARZA sendo TAR de TAR-taglia e ZA de Sou-ZA.
Vítima de choque anafilático Juquinha faleceu em 1945. Ante a impossibilidade de continuidade da firma Tartaglia & Souza por serem de menoridade todos os filhos de Juquinha, o inquieto e progressista mecânico Césare formou um novo grupo de cidadãos que acreditaram no seu projeto e tinham em alta conta o progresso de Raul Soares: Dr. Armando Sodré, Dr. Gerardo Grossi, Luiz Grossi, Chafith Sad, José Sinfrônio de Castro e Bernardino Aladino Caldas. Surgiu, então, em abril de 1946, a Industrial São Sebastião Ltda. sob a direção do Dr. Armando Sodré, presidente, e Césare Augusto Tartaglia, gerente.
No ano de 1949, a sociedade foi alterada para sociedade anônima, para ampliação da fábrica. Passou, então, a contar com empresários de sucesso em Raul Soares, dentre estes: Fernando Gomes Valle e Jayme Peixoto. Na direção continuaram o Dr. Armando Sodré e Césare Augusto Tartaglia.
Decidindo retirar-se da sociedade o empresário Fernando Gomes Valle que estendia os seus negócios para grandes praças do país - Rio de Janeiro e Belo Horizonte - transferiu o controle acionário da empresa, que passara a ter ante a sua admissão no quadro social em 1949 e sucessivas compras feitas a outros acionistas, para o também empresário Jayme Peixoto.
No período de 1946 a 1953 a responsabilidade contábil e a assessoria administrativa ficou a cargo de dois profissionais de valor, Luiz Pimentel e Antonio Queiroz.
Na década de 50 assumiu a presidência da Industrial São Sebastião S/A o acionista Jayme Peixoto, um empresário de muito tirocínio e um cidadão de fino trato, um gentleman.
A convite de Jayme Peixoto o escriba assumiu a responsabilidade da chefia do escritório da empresa.
Na gestão de Jayme Peixoto a Industrial São Sebastião S/A progrediu muito e apresentou excelentes resultados.
A preocupação com o social motivou a inserção nos estatutos sociais de um artigo possibilitando aos empregados a participação nos lucros sociais, o chamado e ansiado 6%, pago aos empregados dentro dos primeiros quatro meses do ano, após aprovação do balanço pelos acionistas reunidos em assembléia geral ordinária. Em caráter pioneiro na região, e talvez no país dentre as empresas de porte médio e de capital fechado, a empresa incluiu em seus estatutos a participação de seus empregados no lucro da empresa.
Antecedeu, também, á Lei n.º 4.090, de 13 de julho de 1962, que instituiu a gratificação de Natal publicada no D.O.U. de 26.07.62, ao pagar em um ano em que os lucros foram considerados excelentes, além da participação nos lucros, uma gratificação natalina; estipulando valor idêntico para cada empregado, independentemente do valor de seu estipêndio mensal.
A Industrial São Sebastião S/A era realmente uma família.
Nem a ação deletéria de uma pseuda liderança ligada a sindicato ferroviário, de inclinação nitidamente comunista, mexeu com a sua estrutura.
Neste período a empresa não foi convocada aos tribunais trabalhistas ou fiscais, em nenhum momento, para responder por quaisquer infrações.
Em 1978, os acionistas majoritários deliberaram transferir o controle acionário da empresa, assumindo-o o grupo Pereira, Martins & Cia. Ltda., de Coronel Fabriciano. A experiência empresarial dos novos controladores aliada ao seu poderio economico-financeiro ensejou um grande progresso á empresa. A ação inconseqüente de alguns fez com quê arrefecesse o entusiasmo dos novos controladores motivando a venda da empresa para um grupo inglês, fabricantes dos afamados produtos de marca Tupy, Duas Caras e Jacaré.
Os ingleses, certamente levados por análises de mercado e suas conjunturas, decidiram sair do mercado, vendendo para outrem, boa parte da maquinaria que havia sido incorporada á Industrial São Sebastião S/A, no período de controle do grupo Pereira Martins, que haviam sido adquiridos em Nova Era, em licitação judicial dos bens de uma empresa siderúrgica falida, e no Rio Grande do Sul, de uma empresa que decidiu se afastar do ramo industrial de ferramentas agrícolas.
Pela sua tradição no mercado brasileiro e acomodadas as situações de desconforto em que se viu envolvida a Industrial São Sebastião S/A, fruto de alguns momentos de desvario e de férias coletivas da razão, dias melhores certamente marcarão o futuro desta empresa tão querida e admirada pelos raul – soarenses.

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